Nas últimas décadas, a Península Ibérica tem sido afetada regularmente por fogos rurais, que são influenciados fortemente por extremos climáticos, tal como aconteceu em 2003, 2012, 2017 e 2025. As ondas de calor e as secas são fenómenos recorrentes nas regiões de clima mediterrânico, sendo particularmente importantes para o aumento do risco de incêndio; e as alterações climáticas podem aumentar o potencial para condições meteorológicas extremas. Adicionalmente, o uso do solo e as características da vegetação também influenciam o risco e comportamento dos fogos rurais.

Neste seminário pretende-se mostrar a evolução do regime de fogo no clima presente e no futuro, na Península Ibérica, em particular na sua relação com o clima. Foram utilizados índices meteorológicos de incêndio, incluindo o DSR (Daily Severity Rating) e os vários componentes do CFFWIS (Canadian Forest Fire Weather Index System), calculados com dados às 12h00 de precipitação acumulada, temperatura do ar, humidade relativa do ar e velocidade do vento. Para esses cálculos foram utilizados dados reanálise atmosférica (ERAInterim e ERA5) do clima presente. Para o clima futuro utilizaram-se simulações de um ensemble de 11 modelos CORDEX, para 2 cenários futuros (RCP4.5 e RCP8.5), até ao final do século.

Em resumo, as principais conclusões deste estudo consistem em três pontos: i) As alterações recentes do clima já tiveram impacto no regime do fogo na Península Ibérica, com modificações das piro-regiões em algumas províncias. Adicionalmente, foi revelada uma ligação importante entre os padrões intra-anuais do número de dias extremos e da área ardida. ii) Os resultados indicam que os fogos rurais que ocorrem em dias acima do percentil 90 do DSR representam 87% da área ardida em Portugal. O tipo de vegetação, em particular a floresta e os matos, têm uma influência alta na variabilidade espacial deste limiar. iii) As alterações climáticas poderão provocar impactos consideráveis no regime do fogo da Península Ibérica, com alterações profundas nas piro-regiões, juntamente com um aumento do número de dias extremos e risco de incêndio, em especial no sul e desde o fim da primavera até ao início do outono.

Tomás Calheiros

 

 

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